Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff terá muito que se explicar
com o eleitorado quando, de fato, a campanha desse ano começar. Boa
parte das promessas feitas em 2010 não foi cumprida e, apesar de ainda
faltar um ano para o fim de seu mandato, dificilmente a presidente
conseguirá tirar do papel tudo que se comprometeu a fazer.
Na área da saúde, por exemplo, as atenções do governo federal se
voltaram para o Programa Mais Médicos, instituído somente no segundo
semestre de 2013. Apesar da maciça aprovação popular, o programa, no
entanto, veio para mascarar as falhas cometidas no setor em três anos.
Em 2010, Dilma prometeu inaugurar 500 Unidades de Pronto Atendimento
(UPA’s) 24 horas, mas apenas 173 foram terminadas. Outra promessa foi a
construção de 8600 unidades básicas de saúde, mas a tarefa está tão
longe de ser concluída que o governo se recusa a informar quantas
instalações realmente foram feitas.
A maior falha do governo na área da saúde, contudo, diz respeito ao Programa Saúde da Família, de efetividade comprovada. Nos dois primeiros anos do governo, as equipes cresceram apenas 6%. Com a chegada do Mais Médicos, a tendência é que esse número caia ainda mais nos próximos anos.
A luta contra o crack também foi negligenciada pelo governo. Das 574
unidades de atendimento prometidas, apenas 60 foram entregues. Dilma
disse ainda que abriria 3.508 vagas em enfermarias para dependentes da
droga, mas somente 697 estão em funcionamento, menos de 20%.
Educação e segurança
Não é apenas na área da saúde que Dilma frustrou seus eleitores. Na
educação, por exemplo, a erradicação do analfabetismo, que seria uma das
marcas de seu governo, fracassou. Em 2012, após 15 anos de quedas
consecutivas, o número de analfabetos estagnou. Ao invés de zero, hoje a
taxa atinge 8,7% da população. Outra polêmica envolvendo as promessas
da presidente foram as creches. Dilma disse que construiria seis mil
unidades, depois citou dez mil, mas somente 1.267 foram entregues, a
maioria feita em parceria com prefeituras e governos estaduais.
Na segurança, outra peça-chave de sua campanha, mais problemas. Dilma
prometeu construir 2.883 postos de polícia comunitária no país, mas
técnicos do próprio Ministério da Justiça avaliaram o cálculo como
superdimensionado. Dos R$ 538 milhões previstos para 2011 e 2012, nenhum
centavo foi gasto. As Unidades de Polícia Pacificadora, nos mesmos
moldes das construídas no Rio de Janeiro, também ficaram apenas no
discurso presidencial.
Infraestrutura deficiente
No entanto, talvez a principal falha do governo tenha sido nos
projetos ligados a infraestrutura. Às portas da Copa do Mundo e dos
Jogos Olímpicos, Dilma prometeu uma série de obras e reformas que estão
longe de serem concluídas. Nem mesmo todos os estádios onde ocorrerão os
jogos ficaram prontos. O trem-bala, que ligaria o Rio de Janeiro a São
Paulo, se tornou uma verdadeira lenda. Assim como a expansão do metrô no
Rio de Janeiro e Belo Horizonte e a modernização de portos na Bahia,
Espírito Santo, Pernambuco, Paraíba e Maranhão.
Diante da ineficiência de seu governo, Dilma teve que apelar para a
iniciativa privada, por meio de concessões públicas, para sanar diversos
problemas de infraestrutura. Foi o que aconteceu com a BR-040 e as
ampliações e reformas dos aeroportos de Confins e do Galeão. Outras
obras seguem em ritmo lento, como a duplicação da BR-116, que só deverá
ficar pronta em 2017 e a construção da Ferrovia Norte-Sul, que já custou
R$ 5,1 bilhões aos cofres públicos.
Economia, a grande vilã
Os desacertos do governo Dilma, em sua maioria, se devem à
incompetência do governo para lidar com a economia do país. Após a
pujança obtida no segundo mandado do ex-presidente Lula, os últimos anos
foram trágicos para as contas públicas. O crescimento ficou aquém das
expectativas, com índices inferiores ao de outros países em
desenvolvimento. O pesadelo da inflação, que já tinha sido esquecido
pelos brasileiros, voltou a atormentar, com altas acima de todas as
metas previstas pelo governo. Em 2013, até os juros voltaram a subir,
retornando ao patamar de dois dígitos.
Se não conseguiu cumprir suas metas nos primeiros três anos de
governo, nada indica que, no último, Dilma alcançará os objetivos
traçados na campanha de 2010. Principalmente por se tratar de ano
eleitoral, quando a presidente terá que se dividir entre administradora e
candidata. Resta saber quais promessas serão renovadas para um próximo
mandato e quais serão solenemente ignoradas.
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