terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Denúncia de pagamento de propina a integrantes do governo do Paraná é encomenda de bataclã


Tiro no pé – Faltam oito meses para as eleições, mas o jogo sujo já começou. Essa antecedência confirma o desespero de muitos candidatos do PT, que em outubro próximo tentarão abocanhar alguns governos estaduais. A primeira protagonista da estratégia chicaneira foi a emergente mineira Ana Cristina Aquino Caillaux, proprietária da MG Guincho e Transportes Ltda. ME, que em entrevista à revista IstoÉ afirmou ter pago a um alto funcionário de logística da Renault para obter um contrato de transporte de carros novos, e para validar o acordo com a montadora, entregue – através de uma mulher – uma quantia em dinheiro ao secretário de Infraestrutura e Logística do Paraná, Pepe Richa – irmão do governador Beto Richa. Para encerrar o enredo tortuoso daria ainda uma participação em sua empresa a Amauri Escudero Martins, representante do escritório do governo paranaense em Brasília.

(Foto: Revista IstoÉ)

A Renault informou que a AGX Log (empresa montada pelo filho da emergente) não presta serviços para a montadora e que nunca houve contato com representantes da empresa.
Ambos (Pepe e Escudero), em nota, reagiram às denúncias, mas Pepe Richa disse desconfiar que “interesses políticos e eleitoreiros” estejam por trás da publicação da matéria supostamente jornalística. Em outras palavras, a reportagem tem o DNA de missa encomendada. A questão é muito simples: Ana Cristina Aquino é processada por lavagem dinheiro e falsidade ideológica, além de ter afirmado que recorreu a agiotas para abrir em Curitiba uma filial da empresa do filho, a AGX Log, tendo um contrato que a mesma revista disse que é inverídico e inválido.
De chofre é impossível dar crédito a alguém com esse comportamento e que, segundo a própria revista, em edições anteriores a emergente, teria duas inscrições distintas no CPF e um exagerado comportamento de gastos e promoção pessoal. Mas a situação é ainda pior porque nenhuma prova foi entregue à revista IstoÉ, algo que causou estranheza até no líder do PT, deputado estadual Tadeu Veneri, que não se conteve e disparou: “Ana Aquino disse que sacou R$ 500 mil para dar ao Pepe Richa. Se isso é verdade, ela deve ter um extrato bancário que comprove.”
Se política não é para amadores, corrupção exige destreza profissional. E Ana Aquino mostrou que não é do ramo. Ela disse à revista que levou ao então ministro Carlos Lupi, do Trabalho, um envelope com R$ 200 mil em dinheiro. De igual maneira não apresentou provas, mas a revista publicou assim mesmo a denúncia. E a IstoÉ errou ao não entrevistar o funcionário de logística da Renault, Julio Barrionuevo, que supostamente teria recebido um valor de R$ 12 milhões, e não ouvir a direção da montadora. Algo como um mensaleiro condenado a prisão declarar que pagou propina a um ministro do STF e um veículo de comunicação, sem checar e não tendo provas documentais, publicar a denúncia.
A ideia inicial era queimar Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, que tenta voltar ao Ministério do Trabalho no vácuo da reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff deve começar nos próximos dias. Como a missa foi de encomenda, aproveitou-se a ocasião para enxertar Pepe Richa no redemoinho que não se sustenta. Isso porque quem encomendou a farsa quer minar a reeleição do governa dor Beto Richa, do Paraná.

Marca do batom
Quem trabalha no meio jornalístico e vasculha com mais atenção a recente edição da revista IstoÉ não demora a identificar as digitais que ficaram na encomenda. Como noticiou o jornalista Zé Beto, a revista traz na mencionada edição quatro páginas de anúncios da Caixa Econômica Federal, que em uma das vice-presidências está Marcos Vasconcelos, paranaense de Maringá e ligado ao ministro Paulo Bernardo da Silva, ministro das Comunicações, e ao petista Nedson Micheletti.
Ex-prefeito de Londrina, Micheletti foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Paraná por improbidade administrativa e atualmente encontra-se na assessoria da presidência da Caixa. Há ainda na revista IstoÉ outras três páginas com anúncios do Banco do Brasil e da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, cuja diretoria é indicada pelo Ministério das Comunicações, mas quem de fato manda na estatal é o mensaleiro condenado à prisão José Dirceu.
Esse imbróglio, baseado em denúncias pífias e sem qualquer comprovação, não surgiu a esmo nas páginas da revista IstoÉ. Ainda ministra da Casa Civil e de malas prontas para sair pela porta dos fundos do Palácio do Planalto, Gleisi Hoffmann é a candidata do Partido dos Trabalhadores ao governo do Paraná, mas tem patinado nas pesquisas por conta de suas trapalhadas na pasta. A primeira e mais grave foi ter levado o pedófilo Eduardo Gaievski para Brasília na condição de assessor especial da Casa Civil. Incomodada com a repercussão que o ucho.info tem dado ao caso, inclusive cobrando uma explicação sobre como a indicação de Gaievski passou pelo crivo dos órgãos de segurança da Presidência da República, Gleisi decidiu processar o editor do site, em atitude claramente censora e intimidatória.
A segunda reinação de Gleisi Hoffmann foi trabalhar nos bastidores do Senado Federal pelo projeto do Executivo que prevê que a educação de crianças e adolescentes com necessidades especiais deve ficar a cargo, preferencialmente, da rede convencional de ensino. Resumindo, Gleisi trabalhou contra as APAEs, mas se irritou com o fato de o ucho.info ter publicado matéria com comentários sobre reportagem do jornal “Folha de S. Paulo” que tratou do assunto com dois dias de antecedência. E por conta disso a ainda ministra resolveu processar o editor do site.

Armação ilimitada
A lambança que está nas coxias da matéria da revista IstoÉ não para por aí. Ao detonar o ex-ministro Carlos Lupi, que está por trás da armação tenta salvar a pele do pedetista paranaense Osmar Dias, convidado por Gleisi Hoffmann para ser candidato ao Senado em sua chapa. Nada de anormal existiria no convite feito pela petista se Osmar não fosse irmão do senador Alvaro Dias, também do Paraná, e candidato à reeleição pelo PSDB. Assim como quer tomar de assalto o Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, com a candidatura de Alexandre Padilha, ministro da Saúde, o PT planeja o mesmo no Paraná com Gleisi Hoffmann. Acontece que a ministra-chefe da Casa Civil não tem currículo para ocupar o Palácio Iguaçu.
Com suas atabalhoadas incursões, que fazem sombra às “Reinações de Narizinho”, Gleisi tenta sufocar a qualquer custo aqueles que atrapalham o seu projeto político. O Paraná é um dos mais importantes estados da federação e não merece essa manobra chicaneira, que usou a revista IstoÉ para publicar denúncia que por enquanto é conversa fiada da pior qualidade.
Sem a apresentação de documentos para comprovar as afirmações da empresária Ana Cristina Aquino, a petista Gleisi Hoffmann pode se preparar porque o tiro disparado por algum companheiro saiu pela culatra e volta na sua direção. De tal modo, sem qualquer alusão à revista, no ar fica a pergunta que não quer calar: quanto é?

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