Presidente faz pronunciamento de TV para defender realização do Mundial
Tai Nalon para Folha de S. Paulo
Discurso faz parte de plano do Planalto para neutralizar críticas aos gastos e evitar tensão social. oposição reage.
A presidente usou nesta terça-feira (10) a rede nacional de rádio e TV para defender a realização da Copa e atacar os "pessimistas" que não acreditam no evento.
"Como se diz na linguagem do futebol: treino é treino, jogo é jogo. No jogo, que começa agora, os pessimistas já entram perdendo", afirmou.
O pronunciamento durou pouco mais de dez minutos e a ideia, segundo a própria presidente, foi passar uma "noção correta" da Copa.
Parte das crescentes críticas à realização do Mundial decorre dos atrasos e dos gastos com as obras.
O governo avalia que o descontentamento ocorre porque não houve tempo para a população "absorver" os benefícios dos investimentos.
O pronunciamento de Dilma faz parte de uma ofensiva de comunicação do Planalto, que começou com uma sequência de entrevistas da presidente a redes de televisão.
A presidente defendeu o "legado" da Copa ao reafirmar que "fizemos isso para os brasileiros" e que essas intervenções não "voltarão na mala dos turistas". (1)
Citou os estádios que "estão aí, prontos" e os aeroportos que dobraram de capacidade, afirmou que não haverá nem "falta de luz na Copa, nem depois dela" e criticou aqueles "que chegaram ao ridículo de prever uma epidemia de dengue na Copa em pleno inverno no Brasil". (2)
A estratégia do pronunciamento foi reforçar que a "Copa dura apenas um mês". Por isso, os novos aeroportos servem, disse Dilma, para atender a uma demanda crescente de brasileiros e os estádios, por sua vez, terão outros usos no futuro.
Dilma se referiu a obras de mobilidade como ganhos. Citou avenidas, viadutos, pontes, metrôs, vias de trânsito rápido e "avançados sistemas de transporte público". (3)
Em relação à comparação de gastos da Copa com educação e saúde, Dilma disse ser um "falso dilema".
Segundo ela, os investimentos nos estádios, numa parceria entre bancos públicos, governos estaduais e empresas privada, contabilizaram R$ 8 bilhões.
Em educação e saúde, afirmou a presidente, as esferas federal, estadual e municipal "investiram", desde 2010, cerca de R$ 1,7 trilhão. (4)
"Ou seja: no mesmo período [de quando começaram as obras], o valor investido em educação e saúde no Brasil é 212 vezes maior que o valor investido nos estádios."
Com relação a greves e protestos, Dilma pediu "paz" e disse que "manifestações populares e reivindicações", sem fazer nenhuma referência específica, "ajudam a aperfeiçoar, cada vez mais, nossas instituições democráticas".
O PSDB, que tem Aécio Neves (MG) como adversário da presidente nas eleições de outubro, soltou nota para criticar o pronunciamento.
"Na rede oficial de rádio e TV convocada esta noite, a presidente ultrapassou ainda mais os limites na mistura do interesse público e dos interesses pessoal e partidários, algo que já se tornou sistemático em seu governo", diz.
Para os tucanos, o pronunciamento "foi um esforço para transformar em motivo de orgulho nacional obras inacabadas, gastos superfaturados e a absoluta falta de capacidade de gestão desse governo".
(1) FALTOU DIZER
Faltando dez dias para a Copa, só metade das obras estavam prontas, segundo balanço da Folha.
(2) FALTOU DIZER
Campinas (SP), onde ficam concentrados Portugal e Nigéria, passa por uma epidemia de dengue
(3) NÃO É BEM ASSIM
Todos os 5 projetos de transporte sobre trilhos foram excluídos do plano. Corredores de ônibus (BRTs) estão sendo entregues incompletos
(4) NÃO É BEM ASSIM
Só se chega à cifra de R$ 1,7 trilhão se contabilizados, além dos investimentos, gastos com custeio e pessoal
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